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Aprendizagem baseada em problemas: o que e como os alunos aprendem?

O interessantíssimo artigo intitulado "Problem-Based Learning: What and How Do Students Learn?" de Cindy E. Hmelo-Silver publicado na "Educational Psychology Review" em 2004, explora a aprendizagem baseada em problemas (PBL, do inglês Problem-Based Learning) como um método instrucional onde os alunos aprendem através da resolução facilitada de problemas.


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O PBL centra-se em problemas complexos sem uma única resposta correta e envolve trabalho colaborativo em grupo, aprendizagem autodirigida (SDL, do inglês Self-Directed Learning), e reflexão sobre o conhecimento adquirido e a eficácia das estratégias empregadas. Os professores atuam mais como facilitadores do que transmissores de conhecimento.


Essa abordagem segue tais etapas:

  1. Apresentação do Problema: os alunos são apresentados a um problema, que não tem uma solução clara ou definida.

  2. Identificação do que já se sabe e do que é necessário aprender: os alunos discutem o que já sabem sobre o problema, identificando seus conhecimentos existentes e o que precisam aprender para resolver o problema.

  3. Aprendizagem Autodirigida: após essa discussão inicial, os alunos se envolvem em aprendizagem autodirigida, pesquisando e estudando fora da sala de aula para obter as informações necessárias.

  4. Aplicação do Novo Conhecimento: os alunos aplicam o conhecimento adquirido para desenvolver e testar hipóteses ou soluções para o problema.

  5. Reflexão e Feedback: após a tentativa de resolução, há um período de reflexão e discussão sobre o que foi aprendido e como o problema foi resolvido.

Exemplos de aplicação do PBL incluem:

  • Medicina: Estudantes de medicina recebem um caso clínico e precisam diagnosticar e propor um plano de tratamento, buscando em literatura médica e recursos de aprendizagem as informações necessárias.

  • Engenharia: Alunos de engenharia podem receber a tarefa de projetar uma ponte. Eles devem aprender sobre materiais, tensões e princípios de design para criar um modelo funcional.

  • Negócios: Estudantes de administração podem ter que desenvolver um plano de negócios para uma startup. Eles investigam mercados, estratégias de marketing e análise financeira para elaborar um plano viável.

A aprendizagem autodirigida (Self-Directed Learning - SDL) é um processo onde os alunos tomam a iniciativa, com ou sem a ajuda de outros, para diagnosticar suas necessidades de aprendizagem, formular objetivos de aprendizagem, identificar recursos humanos e materiais para a aprendizagem, escolher e implementar estratégias de aprendizagem apropriadas, e avaliar os resultados da aprendizagem. No contexto da aprendizagem baseada em problemas (PBL), a SDL é um componente crítico, pois os alunos são responsáveis por dirigir seu próprio processo de aprendizagem ao enfrentar um problema.


Por exemplo, os alunos de medicina, ao trabalharem em um caso clínico, precisam determinar quais informações e habilidades são necessárias para diagnosticar e tratar o paciente. Isso pode envolver a identificação de lacunas em seu conhecimento, a busca de informações em recursos médicos, e a aplicação de novos conhecimentos ao caso em questão. Esse processo requer que os alunos sejam proativos, autônomos e reflexivos em seu aprendizado.


No entanto, a SDL não é um processo inerentemente simples ou natural para todos os alunos. Alguns podem enfrentar incertezas significativas ou ter dificuldade em adaptar estratégias de aprendizagem anteriores a novos contextos de aprendizagem. Por isso, pode ser necessário um suporte adicional, como o fornecimento de estratégias de aprendizagem ou recursos de aprendizagem adequados, para ajudar os alunos a se tornarem aprendizes autodirigidos eficazes. A SDL é particularmente desafiadora em ambientes de PBL, onde os problemas a serem resolvidos são mal estruturados e sem soluções únicas, exigindo dos alunos uma gestão mais consciente e regulada de seu próprio aprendizado.


Assim, o objetivo do artigo de Cindy E. Hmelo-Silver é detalhar a natureza da aprendizagem no PBL e examinar as evidências empíricas que o apoiam. A metodologia inclui a revisão da literatura existente, análise de dados de pesquisa e estudos de caso para avaliar a eficácia do PBL em relação a cinco metas educacionais: desenvolvimento de conhecimento flexível, habilidades eficazes de resolução de problemas, habilidades de aprendizagem autodirigida, habilidades de colaboração efetivas e motivação intrínseca para aprender.


As principais conclusões indicam que o PBL pode ajudar os alunos a desenvolver um entendimento flexível e habilidades de aprendizagem ao longo da vida. No entanto, a pesquisa é mista em relação ao desenvolvimento de conhecimento extensivo e flexível. Alguns estudos mostram que os alunos de PBL podem ter desempenho ligeiramente inferior em testes de escolha múltipla, mas tendem a ter um desempenho melhor em tarefas relacionadas à resolução de problemas clínicos e desempenho clínico.


O PBL também apresenta vantagens na aplicação do conhecimento em novas situações, sugerindo que os alunos podem transferir o conhecimento aprendido para resolver novos problemas. O artigo aqui analisado também reconhece a necessidade de mais pesquisas, especialmente com alunos menos habilidosos, para entender melhor como essas metas são alcançadas.

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