Não importa sua idade, seja você criança ou idoso, ou algum adulto que está experimentando o auge da produtividade, uma coisa é certa: sua vida é recheada de hábitos (ainda que você não perceba isso!). Desde escovar os dentes assim que acorda, até o hábito de comer bobagem quando ficam sozinhas em casa, as pessoas possuem diversos tipos de comportamento que, por alcançarem um alto nível de familiaridade, acabam tornando-se “automáticos”.
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No livro “O Poder do Hábito”, o autor Charles Duhigg, cita que o despertar científico para a importância de estudar a mecânica dos hábitos começou algumas décadas atrás, quando alguns pacientes com graves problemas cerebrais, e que haviam perdido a capacidade de absorver novas informações, começaram a desenvolver novas rotinas comportamentais, o que deveria ser inviável já que o cérebro estava incapacitado de reter novas informações.
Essa capacidade de absorver novas rotinas levou os cientistas a estudarem partes do cérebro que, até então, não haviam chamado tanta atenção ainda, em especial os gânglios basais, que se referem a uma parte do cérebro que guarda comportamentos muito enraizados. Décadas de estudo se seguiram e os cientistas começaram a descobrir mais coisas interessantes, especialmente por meio de experimentos em laboratórios utilizando animais.
Por meio desses estudos, tais cientistas notaram que há um padrão de atividade cerebral que faz com que um determinado comportamento se torne um hábito. Vamos citar um exemplo: suponha que você consiga um emprego como entregador de jornais e a rota que disponibilizam para entrega é no bairro mais bonito da cidade e que, diga-se de passagem, você jamais conheceu. Ao iniciar sua rota de entrega pela primeira vez, seu cérebro está trabalhado de forma acelerada. Cada casa, esquina, rua, jardim...tudo desperta sua atenção, pois é o bairro mais belo da cidade. Você está maravilhado com a beleza daquele lugar. Do início ao fim da rota, você está em deslumbre. Porém, com o passar das semanas e meses, você já não experimenta o mesmo “choque” e seu comportamento passa a ser quase automático. Enquanto nos primeiros dias, seu cérebro funcionava de forma intensa, com o passar do tempo ele passa a funcionar de maneira mais “leve”, sem nenhum tipo de intensidade. O que explica isso?
Quando desfrutamos de uma experiência pela primeira vez, nosso cérebro trabalha acelerado, pois ainda não conhece ou não se adaptou a esse momento (seja bom ou ruim). Por isso, ele trabalha mais intensamente para absorver e aprender com o novo acontecimento. Porém, assim como todo o resto do corpo, o cérebro também busca uma zona de acomodação e “descanso”, pois afinal, ninguém consegue permanecer com nenhuma parte do corpo funcionando intensamente por muito tempo, não é mesmo? Com o cérebro, não é diferente. Portanto, se essa nova experiência começar a se tornar rotineira, o cérebro procura encontrar uma zona de acomodação, para que ele encontre regiões de familiaridade e passe, assim, a criar uma sensação de descanso e segurança.
Isso pode parecer algo negativo, mas não é. Na verdade, é quase uma necessidade do ser humano. Para aqueles que dirigem carros, tentem lembrar como foi realizar uma ré pela primeira vez. Bem difícil, não foi? Exigiu atenção redobrada e certamente seu cérebro atingiu picos de atividade. Porém, se você é hoje um motorista experiente, ainda é preciso de toda essa árdua atividade cognitiva? Certamente não, o hábito de fazer isso com frequência torna o procedimento mais familiar e fácil de realizar.
Portanto, hábitos surgem porque o cérebro procura maneira de poupar esforço e isso permite que nossas mentes desacelerem com maior frequência. A grande vantagem disso, é que esse mecanismo poupa trabalho para atividades que exigem, de fato, maior esforço ou concentração, como estudar um assunto novo, por exemplo. A desvantagem é que tal “acomodação” pode gerar problemas como “desligamento” ou “excesso de confiança”. No exemplo da ré, imagine uma pessoa que, por ter muita experiência no veículo, realize uma ré confiante de que nada acontecerá (“afinal, já fez isso tantas vezes, não é mesmo?”). Porém, o excesso de confiança cegou para um outro veículo que passava mais rapidamente e isso acabou causando uma colisão. Trágico, não é mesmo? Porém, muito comum no dia a dia.
O mecanismo do hábito funciona, então, com 3 partes, segundo Duhigg, que são: gatilho, rotina e recompensa.
O gatilho é o acontecimento que vai acionar um alerta mental a respeito do que precisa ser feito. Por exemplo, levantar da cama pela manhã costuma ser o gatilho para a maioria das pessoas escovar os dentes e tomar banho. Sair do trabalho depois de um dia estressante é o gatilho para muitas pessoas ingerirem bebidas alcoólicas para esquecer as dificuldades do dia. Ficar sozinhas em casa é o gatilho para muitas pessoas comerem livremente todo tipo de guloseima, afinal, ninguém está olhando, não é mesmo?
A rotina é o hábito em si, é a forma como executamos o hábito. Por exemplo, quando dirigimos um veículo, temos uma rotina que envolve a marcha e os pedais, e costumamos fazer isso de forma automática. Pode parecer bobo, mas calçar os sapatos pela manhã, antes do trabalho, é uma atividade que realizamos de maneira despercebida e que, se pararmos para analisar, é sempre feita da mesma forma. Costumamos seguir rotinas até mesmo quando não estamos cientes disso.
A recompensa é a sensação de dever cumprido. Pode ser biológica, psicológica ou ambas. Quando você chega em casa da academia e toma um banho refrescante, isso causa uma sensação de alívio que faz você sentir o prazer de ter cumprido a obrigação de treinar. Para algumas pessoas que conheço, assistir um filme é a recompensa escolhida depois de uma rotina de várias horas de estudo. A recompensa é uma espécie de “prêmio” que te ajuda a se manter motivado(a) para manter o hábito sempre em dia.
Após essas reflexões a respeito do poder dos hábitos, começamos a entender que eles costumam estar profundamente enraizados em nossas vidas e as vezes nem mesmo percebemos. Isso é bom? Sim, pois hábitos nos ajudam a lembrar de coisas que são importantes de se fazer/realizar pelo resto da vida. Mas pode ser algo ruim? Sim, também. Afinal, existem hábitos bons e ruins. Se os bons hábitos são difíceis de sumir, os ruins também são.
Porém, mesmo profundamente enraizados, ainda podem ser alterados ou substituídos. Porém, isso exige 3 tarefas:
1. Reconhecer a existência do hábito (espero que esse texto ajude você nessa missão).
2. Descobrir o gatilho, rotina e recompensa (mecânica do hábito).
3. Força de vontade e disciplina para modificar um dos 3 itens do exemplo anterior.
Para ser mais claro, vou dar um exemplo já citado anteriormente. Uma pessoa pode desenvolver o hábito de, ao ficar sozinha em casa, começar a comer todo tipo de bobagem possível, como forma de satisfazer o apetite. Pode ser algo que já tenha disponível em casa, ou pedir alguma guloseima para entrega, não importa. Isso é comum na vida de algumas pessoas que querem evitar o julgamento de familiares na hora de comer. Para essas pessoas, o gatilho é o ato de ficarem sozinhas em casa, ou seja, é o momento em que o hábito começa a “rodar”. A rotina, passa a ser então, o ato de comer várias coisas (pizzas, pastéis, hamburgueres, etc) desenfreadamente, até o estômago não aguentar mais. A recompensa pode ser a sensação de “empachamento” oriunda de tanta comida consumida livremente. Este é apenas um exemplo, mas podemos trabalhar nele.
Como modificar este hábito? O que seria mais fácil de “atacar”?
Talvez o gatilho fosse um bom começo. Que tal evitar ficar sozinho em casa? Se os parentes precisarem sempre sair de casa e for impossível evitar ficar sozinho, que tal sair de casa também? Pode-se visitar algum amigo ou, quem sabe, sair apenas para fazer uma caminhada.
Outra maneira, é alterar a rotina (um pouco mais difícil). Ao ficar sozinho(a), em casa, que tal ao invés de comer, praticar exercícios? Ou assistir um filme de comédia? Mudar rotina costuma ser um caminho difícil, pois é o que demanda maior esforço. Uma forma de trabalhar em cima da rotina, é “pedir ajuda” da recompensa. Como assim?
Se a pessoa fica sozinha em casa e, ao invés de comer sem limites, resolve fazer exercícios físicos, por que não dar como recompensa aquela barrinha de chocolate tão suculenta? Note que isso pode ser uma excelente recompensa para motivar na mudança de um hábito tão ruim rumo a hábitos mais saudáveis.
Por fim, devemos sempre buscar SOBRESCREVER hábitos. Ou seja, eliminar práticas ruins da nossa vida (todos temos) por meio da mudança de alguns dos elementos que compõem esses hábitos. Ao fazer isso, podemos dar inícios a novos hábitos que venham a enriquecer nossa mente, corpo e alma. Portanto, faça uma autoanálise, identifique seus hábitos, encontre os gatilhos, rotinas e recompensas e, se necessário, mude-os!
Observação: deixo a leitura do livro "O PODER DO HÁBITO" como recomendação do post. Vale muito a pena. Segue link para compra:
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