Definindo e avaliando competência profissional
- Prof. Thiago Holanda
- 20 de nov. de 2023
- 4 min de leitura
O artigo "Defining and Assessing Professional Competence" de Ronald M. Epstein e Edward M. Hundert, busca propor uma definição de competência profissional, revisar os meios atuais de avaliação e sugerir novas abordagens para avaliação na prática médica. Os autores argumentam que os formatos de avaliação atuais testam confiavelmente o conhecimento básico e as habilidades essenciais, mas frequentemente subestimam domínios importantes da prática profissional, como habilidades interpessoais, aprendizado ao longo da vida, profissionalismo e integração do conhecimento essencial na prática clínica

A metodologia do estudo envolveu uma busca abrangente na base de dados MEDLINE de 1966 a 2001, focando em estudos que avaliavam a confiabilidade ou validade das medidas de competência de médicos, estudantes de medicina e residentes. A partir desta busca, 195 citações relevantes foram selecionadas e analisadas para abstrair dados e sintetizar uma definição inclusiva de competência.
Os autores definem a competência profissional como o uso habitual e criterioso da comunicação, conhecimento, habilidades técnicas, raciocínio, emoções, valores e reflexão na prática diária, em benefício do indivíduo e da comunidade servida. Argumentam que a competência é mais do que a demonstração de competências isoladas e depende de hábitos mentais como atenção, curiosidade crítica, autoconsciência e presença, sendo por natureza desenvolvimental, impermanente e dependente do contexto.
Hábitos mentais são disposições fundamentais para a competência profissional, como descrito no artigo de Epstein e Hundert. Esses hábitos incluem atenção, que permite ao profissional focar em informações relevantes; curiosidade crítica, que impulsiona a busca por conhecimento além do óbvio; autoconsciência, que é a capacidade de compreender e gerenciar as próprias emoções e preconceitos; e a presença, que é a habilidade de estar completamente engajado e atento ao contexto atual. Por exemplo, um médico demonstra atenção quando nota mudanças sutis no estado de um paciente, curiosidade crítica ao questionar tratamentos convencionais em face de evidências emergentes, autoconsciência ao reconhecer como suas próprias crenças podem afetar o diagnóstico, e presença ao se dedicar completamente à consulta do paciente, sem distrações externas. Estes hábitos são essenciais para a prática médica reflexiva e eficaz, pois influenciam a capacidade do médico de fazer julgamentos clínicos precisos e cuidados compassivos.
A análise crítica das metodologias de avaliação atuais revelou que métodos comuns, como avaliações subjetivas por clínicos supervisores, exames de múltipla escolha e avaliações de pacientes padronizados, embora confiáveis, não abrangem importantes domínios da competência profissional. Os estudos ressaltaram a importância de novos formatos de avaliação que possam avaliar o raciocínio clínico, julgamento de especialistas, gerenciamento de ambiguidades, profissionalismo, gestão do tempo, estratégias de aprendizado e trabalho em equipe.
O artigo conclui que, além de avaliar habilidades básicas, novos formatos de avaliação prometem uma avaliação multidimensional, mantendo confiabilidade e validade adequadas. No entanto, apoio institucional, reflexão e mentoria devem acompanhar o desenvolvimento de programas de avaliação. Além disso, argumenta-se que a avaliação deve servir não apenas para proteger o público, mas também para promover a aprendizagem, inspirar confiança nos aprendizes, melhorar a auto-monitoria e direcionar mudanças institucionais e curriculares.
A auto-monitoria é uma competência chave no contexto profissional que envolve a habilidade de um indivíduo de avaliar e regular suas próprias ações e desempenho em relação a padrões estabelecidos de prática. No artigo de Epstein e Hundert, a auto-monitoria é destacada como um elemento crítico que deve ser fomentado através da avaliação, inspirando confiança e capacidade de autorreflexão nos aprendizes. Por exemplo, um médico exibindo boa auto-monitoria pode, após uma consulta, refletir sobre o diagnóstico e tratamento propostos, avaliando se sua conduta esteve alinhada com as diretrizes clínicas atuais e se houve compreensão adequada das preocupações do paciente. Essa prática contínua de autoavaliação e ajuste é fundamental para o desenvolvimento profissional contínuo e para a prestação de cuidados de saúde de alta qualidade. A auto-monitoria permite que os profissionais de saúde identifiquem áreas para melhorias e aprendizado contínuo, garantindo que suas práticas sejam informadas, atualizadas e centradas no paciente.
Para aplicar essas ideias na prática, as instituições são incentivadas a desenvolver avaliações inovadoras e mais abrangentes, que levem em conta o contexto em que serão usadas e estejam alinhadas com as metas educacionais e profissionais atuais. Esses esforços são guiados por dados que mostram uma correlação entre as avaliações dos pacientes e os resultados biomédicos, o que pode ajudar a validar outras medidas de competência.
Baseando-se no conteúdo do artigo de Epstein e Hundert, aqui estão cinco recomendações para o crescimento profissional de uma pessoa:
Desenvolvimento Contínuo de Competências: engaje-se em aprendizado ao longo da vida e no desenvolvimento contínuo das competências profissionais, incluindo habilidades técnicas, comunicação e raciocínio clínico. Isso pode ser alcançado por meio de educação contínua, participação em workshops, etc.
Fomento da Autoconsciência e Reflexão: pratique a autoconsciência e a reflexão regular sobre sua prática profissional. Mantenha um diário ou um portfólio reflexivo para analisar suas decisões, as emoções envolvidas na rotina de trabalho e as áreas para melhoria pessoal e profissional.
Habilidades de Comunicação e Relacionamento: aprofunde suas habilidades de comunicação e construção de relacionamentos para melhorar a qualidade da interação. Isso inclui escuta ativa, empatia, envolvimento de colegas e clientes nas decisões de tratamento e resposta eficaz às emoções dos outros.
Trabalho em Equipe e Colaboração: participe ativamente em atividades de equipe e colaboração interprofissional. O trabalho em equipe é essencial para a prática profissional moderna e melhora os resultados.
Gerenciamento da Ambiguidade e Incerteza: desenvolva uma tolerância à ambiguidade e à incerteza, habilidades fundamentais em qualquer área. Isso pode ser praticado por meio de discussões de casos reais com colegas, participação em conferências e demais eventos que desafiem o pensamento convencional.
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