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Economia circular e sua interdisciplinaridade (RESUMO)

O interessante artigo intitulado "The Circular Economy: An Interdisciplinary Exploration of the Concept and Application in a Global Context" de Alan Murray, Keith Skene e Kathryn Haynes, explora o conceito de Economia Circular e sua aplicação no contexto global. O trabalho destaca a adoção deste conceito pela China em seus planos quinquenais, ressaltando a importância crescente da Economia Circular para formuladores de políticas e ONGs no Ocidente.

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A ONG Ellen Macarthur Foundation, por exemplo, tem sido uma proponente líder da Economia Circular no Reino Unido, produzindo relatórios significativos sobre o conceito. Na Europa, países como a França têm demonstrado comprometimento com a Economia Circular, com iniciativas de liderança tanto do setor público quanto de ONGs. Empresas francesas como SNCF, Orange France, Capenergies e La Poste se associaram a uma escola de negócios francesa em uma Cátedra de Pesquisa sobre a economia circular. Iniciativas semelhantes estão se desenvolvendo em muitos outros países europeus, refletindo um crescimento no interesse pelo tema.


Essa tendência é impulsionada pela conscientização sobre a depleção de recursos finitos e o uso excessivo de recursos renováveis. Os autores também mencionam um relatório de 2014 do Comitê de Auditoria Ambiental da Câmara dos Comuns do Reino Unido, que pediu ao governo ações para facilitar a transição para uma economia circular. Esses desenvolvimentos indicam um reconhecimento crescente da importância da Economia Circular entre formuladores de políticas e ONGs no Ocidente, sinalizando uma mudança significativa na abordagem para o desenvolvimento sustentável e a gestão de recursos.


O trabalho, assim, começa traçando as origens conceituais e teóricas da Economia Circular, abordando suas raízes em economia e ecologia, e discute como ela tem sido operacionalizada nos negócios e na política. Os autores identificam que, embora a Economia Circular enfatize o redesenho de processos e a reciclagem de materiais, contribuindo para modelos de negócios mais sustentáveis, ela também apresenta tensões e limitações. Algumas dessas tensões incluem:


  1. Confusão Semântica: O artigo aponta para uma falta de clareza e consistência na definição e no entendimento do conceito de Economia Circular. Essa confusão semântica pode levar a interpretações e aplicações divergentes do conceito.

  2. Falta de Foco em Questões Sociais: uma crítica significativa mencionada é a ausência da dimensão social inerente ao desenvolvimento sustentável. Isso limita as dimensões éticas da Economia Circular e pode resultar em consequências não intencionadas, como a negligência dos impactos sociais das práticas de negócios.

  3. Limitações na Operacionalização: o artigo discute as dificuldades na operacionalização da Economia Circular nos negócios e na política. Embora o conceito enfatize o redesenho de processos e a reciclagem de materiais, contribuindo para modelos de negócios mais sustentáveis, ele também apresenta desafios práticos significativos.

  4. Riscos de Simplificação Excessiva: há uma preocupação de que objetivos simplificados, baseados em fundamentos fracos, possam comprometer a utilidade da Economia Circular. Isso sugere a necessidade de uma definição e compreensão mais cuidadosas e robustas do conceito para garantir benefícios reais tanto para o meio ambiente quanto para a sociedade.

  5. Relação com Desenvolvimento Sustentável: o artigo também critica a relação da Economia Circular com o desenvolvimento sustentável, particularmente em relação ao imperativo moral dos negócios de sustentar o ambiente natural. A necessidade de uma abordagem mais holística e integrada é enfatizada para implementar negócios sustentáveis efetivamente.


Assim, o trabalho propõe uma definição revisada da Economia Circular como "um modelo econômico onde planejamento, recursos, aquisição, produção e reprocessamento são projetados e gerenciados, tanto como processo quanto como resultado, para maximizar o funcionamento do ecossistema e o bem-estar humano". Esta definição busca abordar algumas das críticas e limitações identificadas.


Além disso, o paper também destaca vários tópicos importantes que as empresas devem considerar ao abordar a Economia Circular. Estes incluem:


  1. Adoção de Modelos de Negócios Sustentáveis: sugere a necessidade de mudança nos modelos de negócios atuais para abordagens mais sustentáveis. Isso implica uma reavaliação de como as empresas operam, fabricam e consomem, considerando o impacto ambiental e a sustentabilidade a longo prazo.

  2. Enfrentamento de Desafios de Sustentabilidade: as empresas devem estar cientes dos desafios relacionados à sustentabilidade, como o uso excessivo de recursos naturais, respostas ineficazes ao aquecimento global e a falta de foco em justiça social. Isso requer uma abordagem mais holística e integrada.

  3. Implementação Prática da Economia Circular: discute as dificuldades práticas na implementação da Economia Circular, incluindo confusão semântica e falta de foco em questões sociais. As empresas devem buscar clareza na definição e compreensão do conceito para garantir uma implementação eficaz.

  4. Integração de Perspectivas Inter e Transdisciplinares: a Economia Circular requer uma abordagem que integre múltiplas disciplinas e perspectivas, enfatizando o pensamento sistêmico. As empresas devem considerar como diferentes áreas de conhecimento e prática podem contribuir para uma abordagem mais sustentável dos negócios.

  5. Exploração e Crítica de Tensões e Limitações: enfatiza a importância de explorar e criticar as tensões e limitações dentro da Economia Circular, incluindo a confusão com a semântica e a falta de foco em questões sociais. As empresas devem estar cientes dessas tensões ao aplicar o conceito em suas práticas.

  6. Foco em Transparência e Responsabilidade Corporativa: menciona que, apesar do aumento na divulgação de informações sobre responsabilidade corporativa e sustentabilidade, ainda há preocupações de que muitas empresas continuem operando como de costume, sem uma reconstrução real em direção à sustentabilidade. As empresas devem se esforçar para ir além da mera divulgação e realmente integrar práticas sustentáveis em suas operações.

Portanto, o trabalho oferece uma análise crítica e abrangente da Economia Circular, destacando sua relevância e potencial para promover a sustentabilidade nos negócios, ao mesmo tempo em que aponta para a necessidade de uma compreensão mais holística e integrada que inclua considerações sociais e éticas. Vale a pena ler!


REFERÊNCIA:

Murray, A., Skene, K., & Haynes, K. (2017). The Circular Economy: An Interdisciplinary Exploration of the Concept and Application in a Global Context. Journal of Business Ethics, 140(3), 369-380. https://doi.org/10.1007/s10551-015-2693-2

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