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Entendendo a alavancagem financeira

A alavancagem financeira é um conceito bastante utilizado e aplicado em finanças empresariais e trata-se do uso estratégico de recursos de terceiros, como empréstimos ou ações preferenciais, para financiar operações empresariais com o objetivo de otimizar os retornos sobre o patrimônio líquido dos acionistas. A alavancagem financeira, contudo, não é isenta de riscos, exigindo uma análise criteriosa das condições de mercado, da estrutura de capital da empresa e de seu apetite ao risco. Este artigo tem como objetivo explorar de forma abrangente os fundamentos da alavancagem financeira, suas vantagens e desvantagens, bem como os riscos associados, apresentando exemplos práticos e implicações fiscais.


alavancagem


Alavancagem financeira refere-se ao uso de capital emprestado, em vez de capital próprio, para financiar as atividades operacionais de uma empresa. Esse mecanismo permite que as empresas aumentem os retornos potenciais sobre o patrimônio líquido dos acionistas. A lógica por trás desse conceito reside no fato de que, ao obter fundos a uma taxa fixa (como juros sobre empréstimos), a empresa pode gerar retornos adicionais, desde que os lucros excedam os custos associados ao uso desses recursos.


O uso de alavancagem financeira pode ser visto como uma espada de dois gumes. Por um lado, aumenta os ganhos potenciais; por outro, amplifica os riscos financeiros, especialmente em cenários de instabilidade econômica ou quedas nas receitas.


A alavancagem financeira ocorre quando uma empresa assume contratos fixos para obter fundos. Isso pode ser feito por meio da emissão de títulos de dívida, como ações preferenciais ou debêntures, ou da obtenção de empréstimos bancários. A utilização desses fundos está sujeita a obrigações contratuais, como o pagamento de juros e o reembolso do principal, que devem ser honrados independentemente do desempenho da empresa.


Para ilustrar a aplicação prática da alavancagem financeira, considere uma empresa que precisa de $100 para financiar suas operações. Essa empresa pode optar por utilizar exclusivamente capital próprio ou recorrer a uma combinação de capital próprio e dívida. Em um cenário sem alavancagem, o patrimônio líquido totaliza $100, e os lucros líquidos após impostos correspondem a 12% desse valor. No entanto, ao incorporar alavancagem financeira, tomando, por exemplo, $40 emprestados a uma taxa de juros de 5%, o retorno sobre o patrimônio líquido aumenta para 18%, evidenciando o potencial de ampliação dos ganhos.


Esse aumento nos retornos sobre o patrimônio líquido, contudo, vem acompanhado de uma maior exposição ao risco. Alterações nas receitas ou nos custos podem ter um impacto desproporcional nos lucros líquidos, devido à presença de despesas fixas associadas à dívida. Assim, a alavancagem financeira amplifica tanto os ganhos quanto as perdas.


Um aspecto central da alavancagem financeira é a relação entre o índice de endividamento (razão entre a dívida total e os ativos totais) e o retorno sobre o patrimônio líquido. À medida que a proporção de dívida na estrutura de capital aumenta, o retorno potencial para os acionistas também cresce, desde que a taxa de retorno dos ativos seja superior ao custo da dívida. No entanto, essa relação não é linear. Após certo ponto, os custos adicionais associados ao endividamento, como taxas de juros mais altas e maior risco percebido pelos credores, podem superar os benefícios.


A análise dessa relação pode ser ilustrada por meio de cenários hipotéticos. Considere uma empresa com diferentes níveis de endividamento, variando de 0% a 90% dos ativos totais. À medida que o índice de endividamento aumenta, o retorno sobre o patrimônio líquido cresce inicialmente, mas começa a declinar quando os custos da dívida ultrapassam os ganhos adicionais gerados pelos ativos.


Além disso, a alavancagem financeira aumenta a variabilidade dos retornos para os acionistas. Pequenas alterações nas receitas ou nos custos operacionais têm um impacto amplificado nos lucros líquidos, devido à presença de despesas fixas. Essa variabilidade elevada torna a empresa mais suscetível a perdas em períodos de baixa performance, destacando a importância de uma gestão financeira cuidadosa.


Um dos principais fatores que tornam a alavancagem financeira atrativa é o benefício fiscal associado ao pagamento de juros. Em muitos países, as despesas com juros são dedutíveis do imposto de renda, reduzindo o custo efetivo da dívida. Esse benefício fiscal cria um incentivo para que as empresas utilizem dívida em sua estrutura de capital, desde que a economia gerada pela dedução seja maior do que o custo de obtenção dos fundos.

O custo efetivo da dívida pós-tributação pode ser expresso pela fórmula:


kd=i(1−t)


Onde:

  • kd é o custo da dívida pós-tributação;

  • i é a taxa de juros nominal;

  • t é a alíquota de imposto sobre a renda.


Por exemplo, uma empresa que toma um empréstimo a uma taxa de juros de 5% e opera sob uma alíquota de imposto de 40% terá um custo efetivo de dívida de apenas 3%. Essa economia de impostos aumenta a atratividade do uso de alavancagem financeira, desde que os retornos gerados pelos ativos adquiridos com os fundos sejam superiores a esse custo ajustado.


Embora a alavancagem financeira ofereça oportunidades de ampliação dos retornos, ela também aumenta o risco financeiro enfrentado pela empresa. Esse risco é manifestado de duas formas principais:


  1. Flutuações nos retornos dos acionistas: em um cenário de alta alavancagem, qualquer queda nas receitas ou aumento nos custos tem um impacto desproporcional nos lucros líquidos, devido às obrigações fixas de pagamento de juros. Por exemplo, uma redução de 10% nas vendas pode levar a uma queda significativa no retorno sobre o patrimônio líquido em uma empresa altamente alavancada.

  2. Risco de insolvência: empresas com altos níveis de dívida estão mais expostas ao risco de inadimplência em períodos de baixa performance. A incapacidade de honrar os pagamentos de juros e principal pode levar à falência ou à necessidade de renegociação de dívidas, com consequências negativas para os acionistas.


Além da dívida convencional, a alavancagem financeira também pode ser alcançada por meio do uso de ações preferenciais, que oferecem dividendos fixos. Embora os dividendos não sejam dedutíveis para fins fiscais, como os juros, eles possuem a vantagem de não representarem uma obrigação legal. Assim, em períodos de dificuldades financeiras, a empresa pode optar por suspender o pagamento de dividendos sem enfrentar consequências legais.


As ações preferenciais representam uma forma menos arriscada de alavancagem financeira, pois permitem maior flexibilidade na gestão de fluxos de caixa. No entanto, o custo mais elevado desse tipo de financiamento, devido à ausência de benefícios fiscais, deve ser considerado na decisão de sua utilização.


A decisão de utilizar alavancagem financeira deve levar em conta diversos fatores, incluindo:


  • Condições de mercado: em ambientes econômicos instáveis ou com altas taxas de juros, o uso de alavancagem pode ser menos atrativo.

  • Perfil de risco da empresa: empresas em setores voláteis ou com receitas imprevisíveis devem adotar uma abordagem mais conservadora em relação ao endividamento.

  • Objetivos de longo prazo: a alavancagem financeira pode ser utilizada para financiar investimentos estratégicos que ampliem a capacidade produtiva ou aumentem a competitividade, desde que os retornos esperados sejam superiores aos custos associados.



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